terça-feira, 24 de julho de 2012

O que é a Macacosfera?


Por:  em 30 de setembro de 2007



"Uma morte é uma tragédia. Um milhão de mortes é uma estatística."
Kevin Federline

O que macacos tem haver com guerra, opressão, crime, racismo ou mesmo spam? Você vai ver que toda crueldade estúpida e aleatória no mundo fará todo sentido uma vez que nos aventuremos Dentro da Macacosfera.
"E o que raios é Macacosfera?"

Primeiro, imagine um macaco. Um macaco vestido de pirata, se te ajuda a imaginar. Vamos chamá-lo de Tampinha.

Imagina que Tampinha é seu bichinho de estimação. Imagine uma personalidade para ele. Talvez você e ele tenham aventurinhas de macaco pirata, e talvez até se juntem para combater o crime. Pense como você ia ficar triste se Tampinha morresse. 
Agora, imagine que você arruma outros quatro macacos. Vamos chamá-los de Tito, Bolinha, Marcel e TacaMerda. Imagine personalidades para cada um deles. Talvez um seja agressivo, um afetuoso, um é na dele, e o outro se limita a tacar merda o tempo todo. Mas são todos seus queridos amigos macacos..
Agora imagine cem macacos.
Mais difícil agora, não? Então, quantos macacos você precisaria ter para não lembrar mais os nomes de cada um deles? Em que ponto, na sua mente, seus amados bichinhos viram só um mar indefinido de macacos? Ainda que cada um deles seja tão macaco quanto Tampinha era, chega um ponto em que você nem se importa mais se um deles morrer.

Assim, quantos macacos leva para você não se importar mais? Isso não é uma pergunta retórica. Na verdade sabemos o número.

"Então essa história toda é só sua campanha contra a superpopulação de macacos? Vou castrar meu macaco hoje mesmo!"

Bem, não, vai ficar claro logo logo.
Veja só, cientistas de macacos fizeram um estudo de macacos um tempo atrás, e descobriram que o tamanho do cérebro do macaco determina o tamanho dos grupos de macaco que eles formam. Quanto maior o cérebro, maior as sociedades que eles criam.
Eles abriram tantos cérebros de macacos, na verdade, que eles descobriram que podem pegar um cérebro que nunca viram antes e dizer o tamanho das tribos que aquela espécie de animais formaria.
A maioria dos macacos formam tribos de mais ou menos 50. Mas quando deram a eles um cérebro um pouco maior, eles estimaram que a sociedade ideal para esse animal em particular seria cerca de 150.
Esse cérebro, claro, era humano. Provavelmente de um mendigo que pegaram na rua.
"Qual a novidade? Que humanos são a continuação dos macacos que Deus dirigiu com mais orçamento? Quem não sabia disso?"

O buraco é muito, muito mais embaixo. Vejamos um exemplo:
Um jornalista chamado Tim Russert conta uma historinha legal sobre seu pai, no seu livro  Big Russ and Me (o título é uma referencia a seu romance vai-não-vai com o ator Russell Crowe). O pai de Russert costumava separar meia hora para colocar em caixas qualquer vidro quebrado antes de jogar no lixo. Por que? Porque o "lixeiro pode se cortar."
Isso ser algo tão fora do comum ilustra bem meu argumento símio. Nenhum de nós passa tempo algum se preocupando com o bem estar do lixeiro, ainda que ele desempenhe um papel crucial em não vivermos em uma caverna dentro de uma montanha de nossos próprios dejetos. Não consideramos sua segurança e conforto, e se o fizermos, não será da mesma forma que nos preocupamos com nosso melhor amigo ou nossa esposa, namorada ou até mesmo nosso cachorro.

As pessoas atiram garrafas meio cheias de creolina direto na lata do lixo, sem se preocupar com o que aconteceria se o lixeiro deixasse aquilo cair nos seus olhos. Por que? Porque o lixeiro está fora da Macacosfera.
"Essa história novamente..."
A Macacosfera é o grupo de pessoas que cada um de nós, usando nossos cérebros de macaco, somos capazes de conceitualizar como gente. Se os cientistas de macaco estiverem certos, é fisicamente impossível para nós nos importarmos com um número muito maior do que 150.

Muitos de nós não tem espaço na Macacosfera para nosso amável funcionário de limpeza urbana. Assim, não o vemos como uma pessoa. O vemos como A Coisa Que Faz o Lixo Sumir.

Mesmo que você por acaso conheça e goste de um lixeiro em particular, em um ponto ou outro temos todos limites em nossa esfera de preocupação símia. Temos cada um de nós um certo círculo de pessoas que vemos como gente, geralmente nossos amigos e família e vizinhos, e aí então alguns colegas de classe ou de trabalho ou da igreja ou de algum culto suicida.

Aqueles que existem fora desse grupo central de algumas dezenas não são gente para nós. São como figurantes.

Lembra da primeira vez, quando criança, que você encontrou um dos seus professores fora da escola? Talvez tenha visto a tia Teteca comendo frango com a mão na padaria, ou tenha visto o diretor saindo de uma loja de vibradores. Lembra do sentimento surreal que teve ao ver que aquela gente tinha uma vida fora da escola?
Quer dizer, eles não são gente. São professores.
"E aí? Que diferença isso faz?"
Ah, não muita. É só a única razão pela qual a sociedade não dá certo.
É o seguinte: o que vai te atingir mais, seu melhor amigo morrendo, ou uma dúzia de crianças morrendo do outro lado da cidade porque o ônibus delas bateu num caminhão de abelhas assassinas? O que ia te deixar pior, sua mãe morrendo, ou ver no jornal que um terremoto matou 15.000 pessoas no Irã?
São todos humanos, e todos estão mortos do mesmo jeito. Mas quanto mais perto da Macacosfera, mais significam para nós. Exatamente como sua morte não significará nada para os chineses ou, sendo realista, para praticamente ninguém num raio de 30 metros de onde você está agora.

"Por que eu deveria me sentir mal por eles? Nem mesmo conheço essa gente!"
Exatamente. Isso está tão arraigado que mesmo sugerir que você deveria sentir suas mortes tanto quanto a do seu melhor amigo parece ridículo. Somos programados para ter dois pesos e duas medidas bem diferentes para gente dentro da nossa Macacosfera e para os outros 99,999% da população mundial fora dela.

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"Matei uns polícia. Matou alguém?"
"Uns polícia"
"Nenhuma pessoa de verdade?"
"Não, só polícia."
-Mr. Pink e Mr. White
Cães de Aluguel (1992)
Pense nisso na próxima vez que você for ficar puto no trânsito, quando você começar a distribuir dedo de piru e atochar sua cabeça na janela e gritar "APRENDE A DIRIGIR NESSA PORRA, VIADO!" Tente imaginar agir assim num grupo menor. Como quando está parado num elevador com dois amigos e um colega de trabalho, e o amigo vai apertar um botão e acidentalmente aperta o botão errado. Você por acaso iria se inclinar, sua boca dois dedos do ouvido dele, e gritar "APRENDE A USAR A PORRA DO ELEVADOR, VIADO!"?
Eles iam achar que você enlouqueceu. Todos nós enlouquecemos um pouco, entretanto, quando estamos num grupo maior que a Macacosfera. Por isso que temos aquele sentimento estranho de invencibilidade quando estamos no meio de uma multidão, xingando um jogador de futebol de um jeito que nunca faríamos cara a cara.

"Bem, eu sou legal com estranhos. Já imaginou que talvez você que seja um cuzão?"

Claro, você não se esforça para ser cruel com estranhos. Você não se esforça para ser cruel com cães de rua, também.

O problema é que eventualmente, as necessidades daqueles dentro da sua Macacosfera vão levar você a foder com aqueles fora dela (mesmo que o problema seja só descarregar a tensão gritando impropérios). É por isso que a maioria de nós nem imagina roubar dinheiro do nosso vizinho, mas não nos incomodamos de roubar sinal de TV a cabo, e celebramos em silêncio quando esquecem de cobrar algo no restaurante.

Você pode ter uma lista de desculpas longa o suficiente para dar a volta ao mundo, mas a verdade é que para nossos cérebros de macaco, a velhinha da casa ao lado é um ser humano, enquanto a empresa operadora de TV a cabo é só uma máquina grande, fria e sem rosto. Que a empresa é na verdade nada mais que um grupo de pessoas tão humanas quanto a velhinha, ou que alguma velhinha que de fato trabalha lá vai perder o emprego se muita gente piratear o sinal, raramente nos ocorre.

Isso é uma das coisas engenhosas nas grandes religiões, tocando no assunto. Os antigos escribas sabiam que é bem fácil transferir a pica para um estranho, logo nos ensinaram a ter uma idéia pessoal de Deus em nossas mentes que diz "não importa a quem você fira, estará na verdade ferindo a mim. Além disso, posso te esmagar como a um inseto." Admita que se eles não estavam escrevendo inspirados pelo Todo Poderoso, ao menos entendiam a Macacosfera.
Está por todo canto. Uma vez que você entende o conceito, você pode ver os exemplos ao seu redor. Você anda pelas ruas embasbacado, como Neo depois de sair da Matrix.
Mas espere, as coisas vão ficar muito, muito mais estranhas...
"Então quer dizer que a Macacosfera dita como o mundo funciona? Aliás, Matrix é uma merda."
Vai ligar o rádio. Olha os conservadores falando "dO Governo" como se ele fosse um grande dragão espreitando você, doido para abocanhar seu contracheque. Mas não esqueça que esse governo é feito de gente e que todo dinheiro que eles pegam vai para o bolso de seres humanos [N.T. acho que pensar isso, no nosso país, é ainda pior]. O apresentador Rush Limbaugh é famoso por dar gorjetas de 50% nos restaurantes, mas começa a espumar se metade desse valor em dinheiro for descontado de seu contracheque "pelO Governo". Isso independente do fato que esse dinheiro ajuda a mesma mãe solteira que ele não teve problema nenhum em dar gorjeta sendo ela garçonete.

Agora ouça um programa de esquerda e escute eles descreverem as "Corporações Multinacionais" nos mesmos termos diabólicos, uma força maligna que solta fumaça negra, envenena a água e escraviza a humanidade. Não é estranho que, digamos, um homem sozinho em seu porão que esculpe e vende brinquedos de madeira é um nobre que gosta de alegrar o natal, mas uma grande empresa de brinquedos (que leva brinquedos para milhões de crianças) é uma máquina inumana de cobiça? Estranhamente, se o tiozinho do porão fizer brinquedos o suficiente, contratar gente suficiente e fizer lojas o suficiente, vamos parar de vê-lo como um cara legal e começaremos a vê-lo como as fumegantes fábricas de Mordor.

E se você acabou pensando "bem, esses radialistas são um monte de narcisistas bitolados mesmo", você caiu no mesmo erro, transformou seres humanos reais em caricaturas bidimensionais. Não é surpresa nenhuma, você age assim com todos os seis bilhões de seres humanos fora da Macacosfera.
"Então eu tenho que me preocupar com seis bilhões de estranhos? Isso é impossível!"
Isso aí, não é possível. Esse é o ponto.
O que é difícil de intender é que é impossível para eles também se importarem com você.
É por isso que eles não se importam em roubar seu aparelho de som ou vandalizar sua casa ou cortar seu salário ou aumentar seus impostos ou bombardear seu prédio ou lotar seu computador de spam para dietas e tratamentos para aumentar o pênis que você sabe que não funcionam. Você está fora da Macacosfera deles. Na mente deles, você é uma forma indefinida com o bolso cheio de dinheiro esperando ser assaltado.
Pense em Osama Bin Laden. Pensou em um homem camuflado vivendo em uma caverna, planejando missões suicidas? Ou pensou em um homem que tem fome, e tem uma comida favorita, uma paixão de infância, tem pé de atleta, enxaqueca crônica, acorda de manhã com dureza matinal e adora volley?
Alguma coisa em você, agora mesmo, provavelmente se incomoda com isso. Você sente que é uma tentativa de simpatizar com um verme assassino. Não é estranho que apenas algumas características humanas aleatórias sobre ele imediatamente lhe pareçam uma tentativa de simpatizar? Isso o aproxima da sua Macacosfera, ele adquire mais dimensões.
Veja bem, o fato é que Bin Laden precisa tanto de uma bala na testa quanto aquelas caricaturas em camisetas fazem parecer. A chave para entender pessoas como ele, entretanto, é perceber que nós somos caricaturas na camisa dele.
"Então você está usando macacos para dizer que somos todos Osama Bin Ladens?"
Mais ou menos.
Ouça qualquer jovem nos seus 18 anos em seu primeiro emprego, dizendo como seu chefe o sacaneia, e como o governo o sacaneia mais ainda ("O que é FGTS?!?!" ele brada ao olhar seu primeiro contracheque).
Então veja o mesmo jovem no trabalho, onde ele deixa um hamburguer cair no chão, pega-a, e coloca-o no pão e serve-o a um consumidor.
Neste hamburguer reaproveitado está tudo que precisamos para entender esses políticos sem coração e os chefes corporativos. Eles o vêem exatamente da mesma forma que ele vê seus consumidores na fila do balcão. Ou seja, mal pensa a respeito.
Em ambos os casos, para o cara do hamburguer e para o cara a cargo da Exxon, passar o mês e pegar o contracheque é o que importa. Nenhum pensamento é dado à infelicidade gerada por fazer isso nas coxas (já ficou doente do estômago a ponto de sentir que o estômago vai virar do avesso pela boca?) Todos esses empregados ou consumidores simplesmente não cabem na Macacosfera.
O garoto vai reclamar dizendo que não precisa se importar com os consumidores enquanto vive de salário mínimo, mas a verdade é que se ele não sente empatia por seu próximo por 2400 reais ao mês [n.t: a gente é terceiro mundo mesmo...], não o fará por 50.000. Ou, vendo por outro lado, se nos for permitido sermos indiferentes ou mesmo rancorosos por 2400 reais ao mês [n.t: fuck...], imagine o quão revoltado seria permitido a um paquistanês qualquer ficar por 80 reais ao mês.
"Você usou a palavra 'macaco' mais de 50 vezes, mas o mesmo princípio dificilmente se aplica. Humanos já foram à Lua. Quero ver os macacos fazerem o mesmo."
Não importa, é só uma questão de proporção.
Existe uma razão pela qual o lendário macacólogo Charles Darwin e seu assistente, Jeje (pronuncia-se "hehe") Santiago deduziram que humanos e chimpanzés são primos evolucionários. Por mais sofisticados que sejamos (comparando nosso avançado sistema de esgoto com o sistema primitivo dos chimpanzés de manipular a merda com as mãos nuas), a verdade inevitável é que somos limitados da mesma forma por nosso hardware mental.
A diferença principal é que os macacos se contentam com pequenos grupos e raramente interagem com outros fora de sua panelinha de macacos. Por isso raramente travam guerras, embora quando o façam imaginamos que seja hilário. Humanos, entretanto, querem carros, óleo e bens de qualidade fabricados pela 3M, video games japoneses, internets mundo afora e, mais importante, governos. Todas essas coisas requerem grupos maiores que 150 pessoas para funcionarem adequadamente. Assim, constantemente nos vemos lidando com grupos maiores do que nosso cérebros primatas são capazes de lidar.
Aí começam os problemas. Como uma frágil pirâmide humana, estamos ao mesmo tempo apoiando e nos ressentindo uns dos outros. Resmungamos em alto e bom som sobre nosso trabalho como um rosto anônimo numa linha de montagem, ao mesmo tempo em que dirigimos um carro que somente uma linha de montagem poderia ter produzido. É uma contradição constante que nos deixa putos e nos leva a entrar para grupos informais de luta em porões.
Por isso eu acho que foi com uma grande tristeza quando Darwin virou para seu assistente e lamentou, "Jeje, nós somos os macacos."
"Oh não, você não meteu essa, né?"
Se você pensar a respeito, nossa sociedade inteira evoluiu em torno das limitações da Macacosfera. Existe uma razão pela qual todas as nações obesas com as maiores SUVs com as rodas 22'' mais brilhantes têm todas democracias representativas (onde você vota para que alguém governe para você) e são todas, em algum grau, capitalistas (onde as pessoas compram as coisas e ficam com parte do que ganham).

Acima: Democracia
Uma democracia representativa permite que um pequeno grupo tome todas as decisões, enquanto deixa que nós, pessoas comuns, nos sintamos fazendo alguma coisa ao irmos às urnas a cada dois anos e apertando botões que, na verdade, têm o mesmo efeito que aquele que controla a intensidade da sua torradeira. Podemos nos sentir simultaneamente em controle e contidos o suficiente para não causar nenhuma baderna real quando nos entregarmos a nossas histerias de macaco ("Uma mulher mostrou os peitos no Super Bowl! Queremos uma proibição de peitos e futebol imediatamente!")
Da mesma forma, algumas pessoas no passado distante ingenuamente pensaram que podiam juntar os milhões de macacos e dizerem "Beleza, todo mundo pegue uma banana, traga aqui, e nós as distribuiremos com uma fórmula complexa determinando a necessidade de bananas! Agora vão pegar bananas pelo bem da sociedade!" Para os macacos foi um desastre confuso e cômico. Mais tarde, um cara muito mais realista sentou os macacos e falou "Querem bananas? Cada um pega a sua. Vou tirar um ronco." Esse cara, claro, foi o filósofo alemão Hans Capitalismo.
Contanto que todo mundo pegue suas bananas e as divida com os poucos na sua Macacosfera, o sistema vai funcionar mesmo quando ninguém estiver tentando fazer ele funcionar. Assim talvez seria como Ayn rand teria dito, não fosse ela uma piranha amargurada.
Aí então, em algum momento do século III, o filósofo francês Pierre "Baguete" LaFrance inventou o racismo.

Acima: os franceses
Essa foi uma forma de simplificar o mundo, muito complexo para o cérebro dos macacos, ao imaginar que todas as pessoas de uma certa raça são a mesma pessoa, pensando que todos têm as mesmas atitudes, maneirismos, preferências gastronômicas e gosto para roupas. Meio que funciona, contanto que imaginemos essa pessoa como uma boa pessoa ("Esses asiáticos são tão esforçados, precisos e educados!"), mas quando começamos a vê-los como todos sendo um puta cuzão (os franceses, ironicamente) nossa felicidade de macaco novamente vai pelo ralo.
Não é tudo culpa dos franceses. A verdade é, todos esses sitemas de gerenciamento de macacos vão só até certo ponto. Por exemplo, hoje um em cada quatro americanos tem algum tipo de problema psicológico, geralmente depressão. Um em cada quatro. Assista a um jogo de basquete. As chances são que ao menos duas daquelas pessoas na quadra seja mentalmente problemática. Olhe em volta na sua casa. Se todo mundo parece bem, é você.
É alguma surpresa? Você liga a TV e te um especial sobre a epidemia de obesidade. Você tem sobre seus ombros essa preocupação de milhões de outras pessoas comendo demais. O que exatamente você deve fazer sobre os maus hábitos de 80 milhões de pessoas que você nem conhece? Você assumiu o fardo gorduroso de todas essas pessoas fora da Macacosfera e agora carrega esse peso inútil de preocupação como, tipo, um animal inútil nas suas costas.
"Então exatamente o que devemos fazer sobre tudo isso?"
Primeiro, se policie para desconfiar toda vez que ver simplicidade. Qualquer declaração que o problema é simples deve ser tratada como se fosse uma declaração de que o problema é o Pé Grande. Simplicidade e o Pé Grande são encontrados na natureza mais ou menos com a mesma frequência.
Assim, rejeite o pensamento binário de "bom versus mal" ou "nós contra eles". Saiba que problemas não podem ser resolvidos com slogans inteligentes ou programas passo-a-passo simplistas.
Você pode chegar lá seguindo o simples passo-a-passo a seguir. Gostamos de nos referir a esse plano como plano TENTA, MANÉ:
Primeiro, IDIOTA COMPLETO. Ou seja, aceite o fato que VOCÊ É UM. Todos nós somos.
Aquela pessoa insuportável que você conhece, a que está sempre vomitando bobagens, a pessoa que pensa que está sempre certa? Bem, provavelmente para alguém você é essa pessoa. Assim, pegue o que você acha que sabe, diminua 99,999%, e aí então você talvez tenha uma ideia do quanto você sabe das coisas fora da sua Macacosfera.
Em segundo lugar, ENTENDA, não existem Supermacacos. Só Macacos. Aqueles caras que você vê na TV, dando palestras motivacionais, ensinando você a como atingir seu potencial e se tornar rico e bem sucedido como eles? Sabe como eles ganham dinheiro? Dando palestras. Na maior parte do tempo, a única coisa que eles fazem bem feito é convencer as pessoas que eles fazem tudo bem feito.
Não, o princípio da estupidez estabelecido no item 1 ainda se aplica aqui. Não finja que políticos deveriam ser imunes a todas as idiotices canhestras que fazemos no nosso dia a dia, e não caçoe e acuse o pregador pego em vídeo cheirando cocaína do rego de uma prostituta. Um bom exercício é imaginar seu herói -- seja lá quem for -- desmaiado no quintal, pelado da cintura pra baixo. As chances são de que tenha acontecido algum dia. Até Gandhi deve ter tido quartos de hotéis e putas mortas no seu passado.
E nem pense em ignorar o conselho de alguém só porque a fonte gosta de cheirar uma branquinha de vez em quando. Somos todos membros de uma espécie diversificada de hipócrita (ou você contou na sua entrevista de emprego que uma vez ligou pra dizer que estava doente e poder melhorar seus status em World of Warcraft?) Não use os vícios dos seus heróis como desculpa para aloprar.
E finalmente, NÃO PERMITA QUE NINGUÉM simplifique as coisas para você. O mundo não pode ser simplificado. Qualquer um que tenta pintar o quadro em que vivemos com lápis de cor está provavelmente tentando manipular você.
Assim sendo, lembre-se: TENTA, MANÉ. Vão e espalhem as boas novas, cavalheiros. Cópias de nosso livro estão disponíveis na saída.

David Wong é o editor do site Cracked.com e autor do terror permeado de piroca John Dies at the End .


Fonte: http://www.cracked.com/article_14990_what-monkeysphere.html
Outra fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Dunbar%27s_number

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